“Estou no ponto central do gramado”, disse Timothy Treadwell, sorrindo, alguns dias antes de ser comido por um urso. Para Treadwell, o excêntrico protagonista do documentário extraordinário de Werner Herzog O Homem Urso (2005), o mundo natural exercia uma atração singular. Autoproclamado protetor da população de ursos pardos do Alasca, esse fantasista ingênuo era incapaz de separar os idílios de sua imaginação do que Herzog descreve como “a esmagadora indiferença da natureza”.

O cinema está cheio de protagonistas que teriam feito bem em ouvir as palavras de Herzog. Independentemente do que os aventureiros ingênuos desta coleção possam pensar, a natureza não é apenas “outro personagem” que os acompanha em suas jornadas de autorrealização. Essas paisagens não permitem que os bem-intencionados façam concessões. Elas não podem ser domadas e não toleram tolos.

No entanto, o fascínio psicológico da natureza selvagem é grande, e assim o homem persiste. Em First Cow (2019), de Kelly Reichardt, dois empresários se aventuram nas florestas úmidas e violentas do Oregon de 1820, onde planejam um esquema de roubo de leite. Para o casal de turistas em Planeta Solitário (2011), de Julia Loktev, o desejo de viajar se torna repleto de perigos em meio aos imponentes picos da cordilheira do Cáucaso. Somente a enigmática andarilha de Tilda Swinton encontra a transcendência em Memoria (2021), de Apichatpong Weerasethakul, em comunhão com a selva colombiana. Para os poucos afortunados, a natureza recebe a arrogância com um olhar de olhos vazios. Mas Herzog nos lembra que o mundo natural é carregado de antipatia: “Acredito que o denominador comum do universo não é a harmonia, mas sim o caos, a hostilidade e a matança.” As almas infelizes desta coleção provavelmente concordariam.